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Está entre os direitos inerentes da mulher a igualdade. Se foi, e reside agora bem distante da época atual, a sociedade em que o papel da mulher era apenas ter filho. Cozinhar e cuidar dos afazeres domésticos não caracterizam mais as funções primordiais da menina moça de hoje. Grito de ordem em muitas marchas em prol dos direitos da mulher, a frase “Mulher! Mulher! Faz o que quiser!” explana com clareza os atuais rumos profissionais das mulheres caririenses. O artesanato é uma das atividades que vêm mudando o cenário feminino. Em vez de vassouras e enxadas, as mulheres do sertão cearense se destacam cada vez mais na produção manual de artigos como redes de renda, toalhas e até mesmo peças para o vestuário.

 

Segundo a Central de Artesanato do Ceará – Ceart, há quarenta e três grupos de artesanato mapeados na região do Cariri, e desses, vinte e nove são liderados por mulheres. Há ainda, dezesseis artesãos e oito artesãs monitorados pela entidade que trabalham individualmente.

Mulheres do Bilro

A Associação das Mulheres do Bilro de Santana do Cariri é um exemplo de grupo artesão em que mulheres se mobilizam para mudar sua realidade. Desde 2009, nove rendeiras dão continuidade a uma tradição bastante presente no litoral do Estado, mas quase esquecida no interior.  

 Dona Toilza, integrante da Associação, é mãe de cinco filhos, sendo quatro mulheres. Antes de conhecer a produção com a renda do bilro, ela trabalhava como dona de casa e também como agricultora. Após participar de um curso, no ano de 2006, Toilza nunca mais parou de “tricotar”. 

Vendo o empenho da mãe, as filhas de Toilza se interessaram pela renda e hoje também tecem nas grandes almofadas.

Aprender o oficio da renda do Bilro não é exclusividade das filhas de Toilza. Luiza Homem, presidente da Associação, também conheceu a arte através dos ensinamentos da mãe, Dona Cezarina. Inclusive, foi por sugestão de Luiza que as rendeiras se uniram em cooperativa.

Apesar da Associação ser composta apenas por mulheres e esse tipo de renda está ligado a prática feminina, os homens, aos poucos, estão entrando nesse universo. O caçula de dona Toilza já aprendeu a tecer o bilro, enquanto o marido ajuda na preparação da linha. Graciele, uma das associadas, pretende passar para o filho o que aprendeu com a mãe e espera que ele supere o preconceito. 

Organizadas em cooperativa, essas mulheres buscam o fortalecimento do seu trabalho “para não deixar morrer uma tradição tão bonita”. Depois de alguns anos funcionando em espaços cedidos, hoje, a Associação possui uma sede própria que abriga tanto a produção quanto a comercialização dos produtos. As peças, em grande parte, são confeccionadas a partir de encomendas e, após o pagamento das despesas, o lucro é dividido entre as cooperadas.

 

As rendeiras de Santana do Cariri ressaltam que, acima de tudo, a arte de tecer o bilro é uma atividade prazerosa, feita com dedicação ao longo das gerações. O amor dessas mulheres sertanejas pela sua arte é traduzido nos detalhes cuidadosos em cada peça finalizada. 

Associação das Rendeiras do Bilro

 

Endereço: Rua Deputado Furtado Leite

 

Centro - Santana do Cariri

 

Telefone: (88) 9609-0142

 

e-mail: projetobilrosc@hotmail.com

 

Judy Mary é a matriarca da família Oliveira. E ela é quem comanda a continuidade da tradição das Mulheres Bordadeiras do Crato, que vem de muito tempo. “O bordado a mão vem da minha bisavó, que ensinou pra minha avó, que ensinou pra minha mãe que ensinou pra mim, e hoje estou passando pras minhas filhas, inclusive as filhas das minhas filhas estão querendo se entrosar no bordado.”

 

A beleza e o encanto dessa forma de arte foram os motivos que levaram a bisavó de Judy a iniciar essa prática que atravessa gerações. Mas isso só se tornou uma atividade econômica recentemente. Além de líder das Bordadeiras do Crato, Meire é presidente e fundadora da Associação Comunitária de Artesãos, pouco conhecida na região.

 

 

Mulheres Bordadeiras do Crato

Localizada numa região de difícil acesso no Bairro São José, a associação é uma vila de casas construídas em terrenos doados pelos órgãos públicos para que os praticantes do artesanato tenham lugar para morar e trabalhar. E é nesse espaço criativo que acontece o trabalho em família.

 

A tradição aqui é a palavra chave. Não apenas do bordado em si, mas de tudo que cerca estas mulheres. Padre Cicero, santos, caretas, soldadinhos do Araripe; tudo que faz parte da história da região é escrito aqui através de linhas e agulhas. “A gente borda a cultura do Crato, a cultura do Cariri e até a nordestina”, conta Judy. E ela não tem dúvidas quanto a qualidade do seu trabalho. 

 

E esse amor pelo trabalho é o que faz Mary não desistir mesmo achando que essa arte não tem tanta visibilidade hoje. Mesmo assim, sempre procura levar seu trabalho ao maior número de pessoas e lugares diferentes. Com a ajuda do Estado, ela tem uma programação anual de muitas viagens para feiras de artesanato em várias partes do Brasil, chegando a destinos tão longe quanto Foz do Iguaçu, Brasília ou outras partes do Nordeste, como Natal e Recife. Além disso, recebe encomendas de clientes distantes de estados sulistas e do sudeste.

 

Essas encomendas são as maiores responsáveis pela renda da família, que prefere trabalhar assim quando não está expondo seus bordados Brasil afora. Judy não tem reservas quanto às dificuldades que enfrenta nesse mercado. “Com nosso trabalho bordado à mão, que é um produto mais demorado, a gente não tem tanto lucro”. Mas ela vê isso como uma forma de conquistar sua independência e seu espaço.

 

Através do apoio do Sebrae, com suas feiras e cursos profissionalizantes, e do trabalho duro da família, Judy Meire conquista seu próprio espaço e mantem a tradição. Não restam duvidas para esta mulher quanto à continuidade dessa prática profissional:

“Eu me sinto orgulhosa de dizer que é uma coisa linda, eu já bordo com amor, e de tanto amor que eu empenho para fazer essas coisas, a gente se enche de orgulho e assim vai levando.”

 “Nós jamais iremos acabar o trabalho do artesanato.”

Associação Comunitária de Artesãos

 

Endereeço: Rua Zeneidar Oliveira, nº 72

 

Muriti - Crato

 

Telefone:  (88) 9621-0854

 

 

AssociCouro

“Os jovens de agora não querem acompanhar o que a gente viveu. É muito cansativo, desgastante, trabalhoso. Hoje em dia para ganhar através do artesanato é muito difícil, muito sofrido. Eu acho que eles veem isso, e não querem isso pra eles."

Existindo formalmente desde 2010, a AssociCouro, de Crato, é composta por 12 artesãos. Seis deles são irmãos e aprenderam o ofício com o pai. Seu Pedro Lemos ensinou os filhos a produzirem calçados de couro deixando para eles além de boas memórias, o ganha pão. Edineide Romão, uma das duas filhas mulheres, conta que com o tempo, os irmãos tiveram interesse em aprender mais sobre a arte do couro. Foi quando o Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE e a

 

Central de Artesanato do Ceará - Ceart entraram em cena para somar.

Os filhos de Edineide não veem tanta graça na produção em couro. Um está se formando em Recursos Humanos enquanto o outro está no ensino médio. Apesar de não trabalharem diretamente com a mãe na confecção dos produtos, ambos administram juntos a loja Parada Obrigatória Artesanato, localizada no centro de Crato, próximo ao Calçadão. Além de comercializar na loja artigos produzidos pela AssociCouro, Edineide expõe as peças de decoração em ferro produzidas pelo marido e também terceiriza mercadorias.

 

É com orgulho que ela fala das conquistas ao longo da vida. A associação, a loja, os filhos. Quando falamos sobre a figura da mulher na sociedade de antes e de hoje, Edineide explica que os valores repassados dentro de casa são atemporais:

“Hoje em dia não existe mais isso de depender de esposo. Toda mulher tem direito de trabalhar, de ter seu próprio dinheiro. seu próprio investimento. Quero passar isso pros meus filhos, isso de trabalhar pra não depender de companheiro, nem dos pais. Sempre trabalhei na associação, sempre trabalhei com meu pai, e sempre lutei pra conseguir minha independência.”

 

Edineide, eventualmente, é professora em capacitações da Ceart. Para ela, o apoio da Sebrae e da Ceart expandiu os caminhos dos artesãos do Cariri, valorizando e estimulando o desenvolvimento da área. " O Sebrae nos leva pra eventos nacionais e internacionais. Isso alavanca nosso artesanato. Tudo influi. Quando seu artesanato está exposto numa expesição bem bacana, num centro de convenção, por exemplo, seu artesanato tem valor. Quando a gente não tinha o apoio  da Sebrae e da Ceart íamos vender em qualquer outro lugar nosso artesanato ficava desvalorizado."

O legado de Seu Pedro Lemos está assegurado para a próxima geração. "Ensinei a técnica para uma sobrinha, ela tem 22 anos e aprendeu a arte desde os 17. Minha outra irmã que trabalha com couro tem duas filhas e um filho. Todos trabalham na área de calçado em couro. Foi passado da minha irmã para eles, e minha irmã aprendeu com meu pai. Como meus dois filhos homens não quiseram aprender, ensinei para minha sobrinha e pra outras pessoas."

“O Sebrae e a Ceart nos ajudam muito. É uma necessidade tanto deles como nossa. Do mesmo jeito que eles precisam da gente, nós precisamos deles.”

Atualmente, a AssociCouro possui uma sala localizada no prédio da rodoviária local, cedida pela atual administração municipal. Apesar de agradecida, Edineide conta que a estrutura da sala não comportaria as máquinas para a produção. Para ela, o lugar é impróprio, sendo usado apenas eventualmente como escritório para reuniões e armazenamento de arquivos.

 

“Já viajamos pra Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Recife. As pessoas de fora têm orgulho de comprar nossas coisas. Já aqui na nossa cidade há pessoas quem nem nos conhecem. Por isso queremos nos expandir, sermos vistos… Queremos uma sede nossa. Onde possamos produzir e divulgar nosso trabalho ao mesmo tempo.”

 

Edineide acredita que o ideal para o cenário artesanal do Crato seria a obtenção de um espaço amplo, onde houvesse comodidade tanto para a produção como para a exposição fixa das peças produzidas. Nesse local trabalhariam artesãos tanto da AssociCouro como de outras associações de artesanato da cidade. 

“O ideal seria que no Crato existisse um espaço doado pelo município para funcionar como o Centro Cultural Mestre Noza de Juazeiro. Eu não quero que a arte do couro se acabe não. Quero ficar velhinha dando curso pra que as pessoas aprendam.”

AssociCouro

 

Endereço: Rua Coronel Luiz Teixeira, nº 1949

 

Seminário - Crato

 

Telefone: (88) 9956-7121

 

e-mail: associcouro@hotmail.com

 

Expediente

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